quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Continuação Paradigmas Emergente...

2 – Classificação dos Paradigmas

2.1 - Conservadores:

Salvaguardada a caracterização de época, estes paradigmas são os que objetivam ou levam á reprodução do conhecimento. Nesse sentido são paradigmas conservadores: o tradicional, o escolanovista e tecnicista (Behrens, 2003, p. 43).

1.2.1 – Paradigma Tradicional: Este paradigma caracteriza-se por uma postura pedagógica de valorização do ensino humanístico e da cultura em geral. Um fator relevante a destacar é o de que este paradigma ainda não foi ultrapassado. Nele, faz-se necessário as seguintes notas (Behrens, 2003, p. 43-46):

a) A escola é o lugar (o único) por excelência em que se realiza a educação (acesso ao saber) e seu compromisso social é reproduzir a cultura. Apresenta-se como um ambiente físico austero, conservador, cerimonioso e de disciplina rígida;

b) O professor (é dono da verdade) apresenta o conteúdo (pronto e acabado) de maneira fragmentada, com autoridade, severidade, rigorosidade e objetividade;

c) O aluno é visto como um ser receptivo (realizar tarefas) passivo (obedecer sem questionar), um depósito de informações, conhecimentos e fatos. E ainda, uns alunos submissos, obedientes e resignados são premiados, pois são vistos como modelo de comportamento;

d) A metodologia caracteriza-se pelas aulas expositivas e pelas demonstrações que o professor realiza perante a classe. Esta fundamentada em: escute, leia, decore e repita. Desse modo, os procedimentos didáticos não levam em conta o aluno;

e) A avaliação busca respostas prontas e quando as perguntas são propostas não possibilitam formular novas perguntas. Por conta disto, os alunos não são criativos, nem reflexivos e nem questionadores. Dessa forma a avaliação contempla a reprodução do conteúdo e também enfatiza a memorização, a repetição e a exatidão.

1.2.2 – Paradigma Escolanovista constituída por pressuposto de educadores (Dewey, Montessori, Piaget) a Nova Escola foi acolhida no Brasil, em 1930, por Anísio Teixeira. Apresenta-se como um movimento de reação à pedagogia tradicional e busca alicerçar-se com fundamentos biológicos e psicológicos. A dificuldade de implementação dessa tendência em larga escala, nas instituições de ensino, se deu pela falta de equipamentos e preparo dos professores. Vejamos as seguintes notas (Behrens, 2003, p. 47-50):

a) A escola enfatiza o ensino no aluno e propunha o desenvolvimento dos sentimentos comunitários e a formação das crianças à democracia.

b) O professor é um facilitador de aprendizagem e deve auxiliar o desenvolvimento livre e espontâneo do aluno. Ele deve ser acolhedor, assegurador da vivência democrática. Seu papel é de aconselhar e coordenar as atividades planejadas em conjunto com os alunos.

c) O aluno se torna a figura central do processo de ensino-aprendizagem e devem ser levados em consideração os seus fatores psicológicos. Ele é um sujeito ativo e precisa se desenvolver segundo as suas próprias capacidades e recursos em função da sua ação e esforço individual.

d) A metodologia se centra nas unidades de experiência que o professor vai elaborar junto com os alunos, para buscar a aprendizagem. O método deve levar em conta as exigências psicológicas, as características pertinentes a cada idade do educando e a contribuição para o desenvolvimento das capacidades e habilidades intelectuais do aluno.

e) A avaliação privilegia a auto-avaliação. O aluno deverá assumir responsabilidade pelas formas de controle de sua aprendizagem, definir e aplicar os critérios para avaliar até onde estão sendo atingidos os objetivos que se pretende.

1.2.3 – Paradigma Tecnicista fundamenta-se no positivismo e propõe uma ação pedagógica inspirada nos princípios da racionalidade, da eficiência, da eficácia da racionalidade. Seu elemento principal é a organização racional dos meios. Por conta da influência do positivismo e a cisão entre sujeito e objeto provocam uma educação fragmentada e mecanicista. A ênfase da prática educativa recai na técnica pela técnica (Behrens, 2003, p. 51-56).

a) A escola tem o papel fundamental de treinar os alunos, funcionando como modeladora do comportamento humano. Esta tendência procurou transpor para a escola a forma de funcionamento da fábrica, perdendo de vista a especialidade da educação.

b) O professor caracteriza sua prática pedagógica pela transmissão e reprodução do conhecimento. Sua prática visa os comportamentos desejados e como planejador, ele se torna um engenheiro comportamental. Ademais, ele passa a aplicar a técnica pela técnica.

c) O aluno se apresenta como um espectador frente a realidade objetiva. com isso ele fica privado de criticidade, pois a eficiência e competência, requerida pela sociedade, consiste em seguir os manuais e instruções.

d) A metodologia segue a idéia de que os meios dos quais os comportamentos humanos devem ser modelados e reformados. Nesse sentido, o ensino é repetitivo e mecânico e a retenção do conteúdo é garantida pela repetição de exercícios. Por conta disso, o professor propõe cópia, exercícios mecânicos e premiações pela retenção do conhecimento.

e) A avaliação tem em mira o produto. o processo acontece em dois momentos: 1) ela é prévia com a finalidade de estabelecer pré-requisitos para alcançar os objetivos. 2) ela é relativa ao que se propôs nos objetivos institucionais ou operacionais.

2.2 - Os Inovadores

O paradigma inovador na ciência apresenta uma nova visão de mundo. Por isso pode ser chamando de Holística, organísmica ou ecológica (que concebem o mundo como um todo integrado). Este paradigma propõe que o homem seja visto como um indiviso, que haja reconhecimento da unidualidade cérebro-espírito levando à integração sujeito-objeto (Behrens, 2003, p. 57-59).

A ação pedagógica precisa enfocar o conhecimento como provisório e relativo, preocupando-se com a localização histórica de sua produção e instigando o aluno a reconhecer a realidade e a refletir sobre ela. Na prática pedagógica o professor deve propor um estudo sistemático, uma investigação orientada, para ultrapassar a visão de que o aluno é um objeto, e torná-lo sujeito e produtor do seu próprio conhecimento(Behrens, 2003, p. 60).

Portanto, o paradigma emergente deve constituir uma aliança, formando uma verdadeira teia, com a visão sistêmica holística[1], com a abordagem progressista[2] e com o ensino com pesquisa[3]. Tal aliança ou teia permite uma aproximação de pressupostos significativos, cada um em sua dimensão (esta depende da opção e do aprofundamento teórico-prático e do entusiasmo e arrojo de cada docente). Entretanto, para fins didático apresentaremos separadamente (Behrens, 2003, p. 61-62).

2.2.1 – Paradigma Holístico

O grande desafio da visão holística é a superação do saber fragmentado (Behrens, 2003, p. 63-77). Segui-se pois os seguintes pontos:

a) A escola com uma visão ecológica, sistêmica ou holísitca pretende redimensionar as instituições de ensino para recuperar a visão do todo do homem. Nesse sentido a maior dificuldade é superar a visão fragmentada que se instituiu com o positivismo no processo pedagógico. Por conta dessa fragmentação no ensino houve uma ruptura e originou uma dualidade (o intelecto confiado às escolas, e a formação como responsabilidade da família) e, com isso, a escola isentou-se de incluir no seu processo pedagógico os valores, os sentimentos e a solidariedade. Numa recuperação do todo, portanto, esse paradigma, propõe considerar não somente a razão e sensação, mas também a intuição e o sentimento, transpondo o racionalismo reducionista que valoriza o progresso material e negligencia o progresso humano.

b) O professor, aqui, tem papel fundamental na superação da fragmentação (ultrapassar a reprodução para a produção do conhecimento). Ele precisa atingir dois requisitos: 1) buscar caminhos alternativos que alicercem uma ação docente relevante, significativa e competente. 2) buscar instigar seus alunos para a recuperação de valores perdidos na sociedade moderna. Para isso, os docentes precisam visualizar o aluno como um ser pleno e com potencialidades para se desenvolver completamente. Por isso, deve-se levar em consideração (no processo educativo) o cérebro (para o uso dos dois lados: o esquerdo – domina a racionalidade científica e a memorização – e o lado direito – que desenvolve a sensibilidade, a intuição, a criatividade, a estética, o sentimento) como um todo. Portanto, o olhar holístico na educação aponta encaminhamentos que instiguem o docente a buscar opções metodológicas com criticidade. Educar é estimular no aluno desenvolvimento harmonioso das dimensões da totalidade: física, intelectual, emocional e espiritual.

c) O aluno caracteriza-se como um ser complexo que vive num mundo de relações e que vive coletivamente, mas é único, competente e valioso. Ao contemplar o aluno como um todo se deve observar os oito tipos de inteligência indicadas: a lingüística, lógica. Musical, espacial, sinestésica, interpessoal, intrapessoal, naturalista. Nesse sentido, o aluno precisa ser considerado em suas múltiplas e pelos dois lados do cérebro, e este desafio exige do professores a reconstruírem sua práticas educativas. Pois, o aluno, ao acessar o conhecimento, deve ser ético, crítico e construtor de uma sociedade justa e igualitária.

d) A metodologia alerta que os professores e alunos devem trabalhar juntos num ensino de melhor qualidade, buscando uma prática pedagógica crítica, produtiva, reflexiva e transformadora. Nesse sentido, ela prescreve um encontro entre a teoria e a prática, caracterizando uma opção que busque equilíbrio entre os pressupostos teóricos e práticos numa interdependência direta. Nesse caso a metodologia traz duas necessidades: 1) precisa considerar o aluno como ser original, único e indiviso, um ser de relações, contextualizado e dotado de inteligências múltiplas; 2) precisa possibilitar as relações pessoais do ser humano, visando à busca da ética, da harmonia e da conciliação.

e) A avaliação visa ao processo, ao crescimento gradativo e respeita o aluno como pessoa contemplando suas inteligências múltiplas, com seus limites e suas qualidades. As avaliações realizadas durante o processo têm demonstrado que os resultados são mais significativos, pois permitem ao aluno perceber seu desenvolvimento durante o trabalho que está sendo realizado. Esse momento é significativo porque o erro pode vir a ser o pretexto para o professor desafiar o grupo e o próprio aluno a encontrarem (em conjunto) o caminho do acerto (Behrens, 2003, p. 75-78).

2.2.2 – Paradigma Progressista

Este paradigma alicerça a educação que leva em conta o indivíduo como um ser que constrói sua própria história (Behrens, 2003, p. 78-88).

a) A escola precisa estabelecer um clima de diálogo, de inter-relação, de transformação e em que tudo esta sempre em processo. Ela se caracteriza como uma instituição libertadora, democrática, dialógica e crítica. Ademais, a escola tem como função social ser politizada e politizadora, instigando a participação do aluno e do professor para reflexão num contexto histórico e provocando a intervenção para a transformação social.

b) O professor progressista estabelece uma relação horizontal com os alunos e busca no diálogo sua fonte empreendedora na produção do conhecimento. Ele por ter mais experiência acerca das realidades sociais, assume o papel de mediador entre o saber elaborado e o conhecimento a ser produzido. O professor, como mediador do conhecimento, engaja-se com o aluno no ato de conhecer e lidera o processo pela competência. Pelo diálogo, evita o autoritarismo e busca uma prática pedagógica transformadora. Ele respeita os alunos e acredita que são capazes de construir suas próprias histórias, de fazer escolhas e trilhar caminhos reflexivos, críticos e criativos.

c) O aluno é considerado um participe da ação educativa. Junto com o professor atua e se desenvolve num processo intermitente de investigação e discussão coletiva para buscar a produção do conhecimento. Ele é um sujeito ativo, sério e criativo; é um ser incluso, inacabado, em permanente estado de busca, necessita educar-se permanentemente. Ademais, é um sujeito de práxis, de ação e reflexão sobre o mundo. A relação professor e aluno deve ser dialógica, visto que num diálogo amoroso horizonte estabelece uma parceria, confiança e, juntos, crescem e se educam mutuamente.

d) A metodologia busca se embasar nas diferentes formas de diálogo, e, nessa comunicação dialógica, contempla uma ação libertadora é democrática. Essa prática pedagógica leva a uma formação do individuo como ser histórico e contempla uma abordagem dialética de ação/reflexão/ação. Ela visa à produção do conhecimento e provoca a reflexão crítica na e para a ação. A prática educativa converge para a discussão de temas, mas os conteúdos apresentados precisam ser contemplados à luz dos aspectos sociais e políticos. Em fim, educador e educando precisam ter presente que a tarefa do educador consiste em problematizar aos educandos o conteúdo que os mediatiza e não em só dissertar sobre ele ou entregá-lo como se se tratasse de algo já elaborado.

e) A avaliação é continua, processual e transformadora. Aqui, ela perde o caráter punitivo, empreende processo de participação individual e coletivo. Nesse sentido, torna-se possível ser gente na avaliação. Com isso a avaliação é provisória e o aluno sabe que sua determinação pode provocar a sua transformação e a da sociedade.

2.2.3 – Paradigma do Ensino com Pesquisa.

O caminho da produção do conhecimento, numa visão globalizadora exige o desenvolvimento científico e tecnológico. O desafio que se impõe nessa sociedade (no final do século XX) é o de como acessar a informação recebida, como interpretá-la e como produzir novas informações com criatividade, ética e visão global (Behrens, 2003, p. 89-104).

a) A escola precisa com urgência articular seus docentes e alunos para ter uma formação diferenciada que atenda as novas exigências com criatividade, com espírito crítico e reflexivo. Ela precisa proporcionar um ambiente em que os professores e alunos sujeitos do processo possam gestar projetos conjuntos que propiciem a produção do conhecimento.

b) O professor é uma figura significativa no processo como orquestrador da construção do conhecimento. Tem a função de ser mediador, articulador crítico e criativo do processo pedagógico. Ele, como educador, transcende aposição de instrutor e preocupa-se em ampliar caminhos para a emancipação de si mesmo e dos estudantes. Nesse sentido, ele provoca uma prática pedagógica que instiga o posicionamento, a autonomia, a construção do conhecimento, atuando como parceiro experiente no processo educativo.

c) O aluno deverá se tornar um sujeito do processo, um questionador e investigador; deverá ter raciocínio lógico, agir com criatividade, saber viver com cidadania, com ética e adquirir autonomia para ler e refletir criticamente ao aprender a produzir conhecimento. Por conta disso, ele precisa ser instigado a avançar com autonomia, a se exprimir com propriedade, a construir espaços próprios, a tomar iniciativa, a participar com responsabilidade.

d) A metodologia se assenta na busca da produção do conhecimento pelos alunos e pelos professores, com autonomia, com criticidade e com criatividade. Para isso, exige: enfocar o conhecimento com base histórica; valorizar a ação reflexiva, o pensamento divergente e a qualidade dos encontros com os alunos; estimular a análise (a capacidade de compor e recompor dados, informações, argumentos e idéias); perceber o conhecimento de forma interdisciplinar e, por fim, conceber a pesquisa como atividade inerente ao ser humano. Ademais convém (aqui) destacar também a contribuição de Demo (1994), que aponta caminhos à ação acadêmica do professor e do aluno, em cinco nível:

1) interpretação reprodutiva (reproduzir com fidelidade);

2) Interpretação própria ou pessoal;

3) reconstrução (refazer a partir de uma proposta própria);

4) construção (abrir caminhos novos);

5) criação e descoberta (introdução de novos paradigmas metodológicos, teóricos ou práticos).

Por fim, resta-nos anotar que a metodologia de ensino com pesquisa concebe a teoria e a prática com unidade indissolúvel e, também, reconhece que o professor deve ser um contínuo investigador, insaciável (aprender a aprender). Nesse sentido ela pode criar um ambiente inovador na escola e na sala de aula.

e) A avaliação deve ser contínua, processual e participativa. Neste ponto, o caráter punitivo é ultrapassado pela discussão aberta entre professor e os alunos num verdadeiro processo educativo. Ela não é vista como um momento de grande esforço (de memorização e cópia final do bimestre) do aluno, mas pelo seu desempenho geral e globalizado. Em alguns momentos a prova pode ser aplica não como um todo, mas como uma parte da avaliação. Por isso, ela perde o sentido de sanção e adquiri a garantia de avaliar o envolvimento, a participação, a produção do conhecimento e a qualidade do processo educativo.



[1] Busca a superação da fragmentação do conhecimento e resgatar o ser humano em sua totalidade.

[2] Tem como pressuposto central a transformação social.

[3] Pode provocar a superação da reprodução, para a produção do conhecimento, com autonomia, espírito crtico e investigativo.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

UMA LEITURA ACERCA DO PARADIGMA EMERGENTE


Nesse texto, pretende-se demonstrar uma leitura acerca do paradigma emergente no pensamento de Marilda Aparecida Berhres na obra: O Paradigma Emergente e a Prática Pedagógica. Conseqüentemente, mira-se a reflexão sobre o conceito e os tipos de paradigma. Por isso, tocaremos nos dois pontos seguintes: (1) os paradigmas da ciência e a influência na sociedade e na educação (Paradigma Newtoniano-Cartesiano); (2) classificação dos paradigmas (os conservadores e os Inovadores).

Palavras-chave: Paradigma Emergente. Prática Pedagógica. Projeto Pedagógico.



INTRODUÇÃO

Marilda Aparecida Berhres na configuração da obra (O Paradigma Emergente e a Prática Pedagógica) dividi-a, basicamente, em cinco partes: 1) os paradigmas da ciência; 2) paradigmas da ciência que levam á reprodução do conhecimento; 3) os paradigmas renovadores na ciência; 3) a prática pedagógica no paradigma emergente; 5) desafios para uma prática pedagógica emergente. Entretanto, faremos uma divisão um pouco diferente, mas sem perder o essencial na obra da autora. Nossa divisão será apresentada ao longo do texto e, mais exatamente, no anexo (no final do nosso trabalho).


1 – OS PARADIGMAS DA CIÊNCIA E A INFLUÊNCIA NA SOCIEDADE E NA EDUCAÇÃO

Pensar na Educação implica refletir sobre os paradigmas que caracterizaram o século XX e sobre a projeção das mudanças paradigmáticas no século XXI (Behrens, 2003, p. 17).
O século XX manteve a tendência do século XIX, fortemente influenciado pelo paradigma cartesiano -newtoniano . Este paradigma se caracterizou como uma trajetória necessária no processo evolutivo do pensamento humano e apresenta uma epistemologia reducionista que fragmentou tanto a nossa realidade externa como interna, a dimensão interpressoal e a psíquica. Com o conhecimento fragmentado (dividido) isolou o homem das emoções que a razão desconhece e, com isso, ele passou a viver na crise (Behrens, 2003, p. 17-23).
Na educação, o conhecimento fragmentado (gerador da crise) levou os professores e os alunos a processos que se restringem à reprodução do conhecimento (metodologias voltadas á cópias e os alunos permanecem organizados nas carteiras, dividos por filas, em silêncio, passivamente). Para Mores, isto submeteu a escola a um controle rígido, com um sistema autoritário e dogmático (Behrens, 2003, p. 24).
Para propor uma mudança paradigmática torna-se necessário especificar o que se entende pelo conceito de paradigma: Weil (1991) apresenta-o como exemplo, modelo ou padrão. Para Khun (1996) constitui a constelação de crenças, valores e técnicas partilhadas pelos membros de uma comunidade científica, que estabelece uma visão de mundo. Diversos autores (tais como: Mores, Capra, Cardoso) preocupados em definir paradigma se reportam ao Khun. Com a contribuição desses autores para o entendimento do termo, cabe lembrar que a superação de um paradigma científico não o invalida, mas evidência que seus pressupostos e determinantes não correspondem mais às novas exigências históricas. A passagem para um novo paradigma é um processo que vai crescendo, se construindo e se legitimando (Behrens, 2003, p. 26-28).

1.1 - Do Paradigma Newtoniano e Cartesiano

1.1.1 - A Crise
Os últimos cinqüenta anos têm-se caracterizado por um progresso científico e tecnológico (influenciado pelo paradigma newtoniano e cartesiano) sem precedentes na história da humanidade. Nesse processo instala-se a crise: o homem passou a destruir a terra e, em especial, a si mesmo e, conseqüentemente, seus semelhantes. É uma crise de dimensão planetária, advinda de um paradigma que permitiu a separação, a divisão e a fragmentação, levando a uma visão mecanicista do mundo. Em fim, a sociedade tem-se caracterizado pela desigualdade e pelo desrespeito ao ser humano (Behrens, 2003, p. 28-30).

1.1.2 - A Ruptura
A transmissão paradigmática gerada pela crise leva um número expressivo de cientista e intelectuais a buscarem referências que possam romper com a visão racionalista-tecnicista. Porém, a ruptura de um paradigma decorre da existência de um conjunto de problemas na ciência, que não consegue solucionar (Behrens, 2003, p. 31).
O pensamento newtoniano-cartesiano começa a perder força, a partir de estudos da ciência, na afirmação de um sistema em evolução. Disto segue-se algumas teorias: 1) a teora evolucionista (Lamarck e Darwin); 2) a teoria da relatividade (Einstein); 3) teoria quântica (Max Planck); 4) a teoria das estruturas dissipativas (Prigorine); 5) a teoria sistêmica. Essas teorias inovadoras desenvolvidas pelos cientistas e intelectuais desde o início do século XX provocaram uma grande guinada na ciência, porque tem em comum o pressuposto de superar e desacreditar nas supostas verdades absolutas e inquestionáveis do pensamento newtoniano-cartesiano e a busca de um pensamento sistêmico e contextualizado que priorize o todo (Behrens, 2003, p. 31-40).
Em fim, o processo de transformação nessa passagem paradigmática tem influenciado significativamente os profissionais de todas as áreas do conhecimento. O desafio que se impõe é buscar a influência desse novo paradigma no processo educativo, nas propostas pedagógicas e no fazer docente. (Behrens, 2003, p. 40).
Os paradigmas da ciência afetam toda a sociedade e, principalmente, a educação. A sociedade sofreu nestas últimas décadas uma profunda transformação, pois é caracterizada como “Sociedade de Produção em Massa”. Numa sociedade dessa característica a prática pedagógica, desenvolvida pelos professores, leva à reprodução do conhecimento, á repetição e a uma visão mecanicista do ensino e da aprendizagem. Disto segue-se, para fins didáticos, classificar os paradigmas, na educação, em: conservadores e inovadores (Behrens, 2003, p. 41-42).


Referência

BEHRENS, Marilda Aparecida. O Paradigma Emergente e a Prática Pedagógica. Curitiba - Pr: Universitária Champagnat, 2003.